ANTÔNIO BENTO DE ARAÚJO LIMA
JOSÉ OZILDO DOS SANTOS
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ornalista,
crítico de arte, poeta, cronista musical e contista, Antônio Bento de Araújo
Lima foi uma das maiores expressões do jornalismo e da cultura nacional. Era
norte-riograndense por adoção, nascera a 5 de outubro de 1902, em
Araruna, no Curimataù paraibano. Foram seus pais Manuel Otoni de Araújo Lima e
Maria Amélia de Araújo (dona Maroca). Seu pai, proprietário do Engenho Bom
Jardim, era conceituado homem de negócios e político no município de Goianinha,
no Estado do Rio Grande do Norte. O casal, encontrava-se naquela cidade
paraibana, participando do casamento de um irmão de ‘dona Maroca’,
quando ali nasceu seu primogênito.
Pelo lado materno, Antônio Bento era neto do Major Bento José de
Oliveira Lima, de Canguaretama, grande proprietário também no município de
Araruna, e, pelo paterno, do Coronel da Guarda Nacional Antônio Bento de Araújo
Lima, antigo membro do Partido Liberal, no Império, de quem herdou o nome. No
Engenho Bom Jardim, em Goianinha, viveu sua infância, e, é esse ambiente que
encontra-se presente na maioria de seus contos.
ANTÔNIO BENTO DE ARAÚJO LIMA
Em Natal, no Colégio Diocesano ‘Santo
Antônio’, fez o curso secundário, ingressando em 1920 na tradicional
Faculdade de Direito do Recife. Naquela capital, conheceu José Lins do Rego e
Raul Bopp e com ambos, passou a morar numa república de estudantes, na vizinha
cidade de Olinda.
Três anos mais tarde, Antônio Bento transferiu-se
para a Faculdade de Direito do Catete, no Rio de Janeiro e na antiga Capital
Federal, concluiu seus estudos superiores, diplomando-se em 1925. Nessa fase de
sua vida, travou conhecimento com Di Cavalcanti, Portinari e Ismael Nery, e com
estes, participou de vários eventos culturais importantes, realizados no Rio de
Janeiro.
Em princípios de 1926, fixou residência em São
Paulo, onde, ao lado de Mário Pedrosa, manteve uma coluna de crítica musical
no ‘Diário da Noite’. Sua permanência na capital paulista foi
curta. Mas, suficiente para conhecer grandes expoentes da literatura nacional,
a exemplo de Mário de Andrade, de quem tornou-se amigo, auxiliando-o em suas
pesquisas sobre folclore nacional, sendo, ao lado de Câmara Cascudo, um dos
responsáveis pela vinda daquele ilustre escritor ao Rio Grande do Norte, em
1928.
Em 1927, Antônio Bento de Araújo Lima já
encontrava-se estabelecido na capital potiguar. Naquele ano, ingressando na
política, elegeu-se deputado estadual. Na Assembléia Legislativa, participou do
grupo de parlamentares, que subscreveram a emenda à Constituição Estadual, que
instituiu o voto feminino, numa iniciativa pioneira em todo o país. Reeleito
deputado para a legislatura de 1930-1932, teve seu mandato prejudicado pela
Revolução, eclodida no país em princípios de outubro de 1930. E, em
conseqüência daquele movimento, teve que ausentar-se do Brasil, embarcando para
Europa, na companhia de Juvenal Lamartine e outros simpatizantes do regime
deposto.
Na Europa, Antônio Bento travou conhecimento com as
maiores expressões do mundo artístico-cultural da época, fato que permitiu o
enriquecimento de seu espírito e intelecto. Regressando ao Brasil, fixou-se no
Rio de Janeiro, onde participou da fundação do ‘Diário de Notícias’ e
nele atuou até 1932, quando ingressou no serviço público, como funcionário do
Ministério do Trabalho. Em 1940, foi designado para ocupar o cargo de
Procurador da Justiça Regional do Trabalho. Posteriormente, ascendeu a
Procurador de primeira categoria, do Ministério Público da União.
Jornalista da melhor escol, nunca abandonou sua
atividade. De 1934 a 1965, trabalhou no ‘Diário Carioca’ e
naquele organismo da imprensa carioca foi editor de política e comentarista dos
eventos da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, a convite de Carlos
Lacerda, passou a escrever uma coluna sobre artes visuais, o que lhe credenciou
a participar de um congresso preparatório para criação da Associação
Internacional de Críticos de Arte (AICA), realizado em 1948, na
Europa, sob os auspícios da UNESCO.
Anos mais tarde, tornou-se presidente da seção
brasileira da AICA e diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Simpatizante da arte, “acompanhou
durante toda sua existência as mais variadas modificações nas propostas
artísticas e em seus resultados”,
tendo, inclusive, participado da fundação do Museu de Arte Moderna, naquela
cidade. De 1966 a 1970, escreveu para as páginas do jornal ‘Última
Hora’, onde mantinha uma coluna sobre música e artes visuais. Crítico de
artes dos mais conceituados do país, participou de três bienais, realizadas em
Paris e integrou o corpo de jurados das Bienais Internacionais de São Paulo e
Veneza, do Salão Nacional de Arte Moderna e da Comissão Nacional de Artes
Plásticas (1978-1980). Esta última, patrocinada pela FUNARTE.
Homem culto, Antônio Bento publicou vários livros
de crítica, deixando, entre outras obras: ‘Abstração na Arte dos Índios
Brasileiros’, ‘Sérgio Telles’, ‘Ismael Nery’, ‘Manet no Brasil’, ‘Milton
Dacosta’ e ‘Portinari’. Este último, considerado uma obra
de arte. Em 1987, aos 85 anos, publicou ‘Contos Hiper-Realistas’,
que reúne contos baseados em fatos reais. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1988,
aos oitenta e seis anos de idade. Cinco anos mais tarde, o Banco HKB,
patrocinou a publicação de seu livro ‘Poesias, Ponteios, Toadas,
Cordel’. E, em sessão solene, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, comemorou o centenário de nascimento, desse grande intelectual
nordestino, que projetou-se internacionalmente, sem, jamais, esquecer suas
origens.